segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Capítulo 05


Jéssica sentiu pontadas de dor por todo o corpo antes de abrir os olhos. Ainda se sentia tonta e confusa enquanto tentava se lembrar o que acontecera. Percebeu que estava deitada sob uma imensa mangueira. Não conseguia enxergar o céu, pois seus galhos eram muito densos, mas soube que já havia parado de chover. Devagar foi se sentando, e imagens embaçadas de Negrinho assustado e saltando, um cavalo cor-de-terra e muita chuva iam se juntando em sua cabeça.
 Espreitou os olhos para tentar enxergar através da escuridão, mas não conseguia enxergar dois palmos à frente de seu nariz. Ouviu passos e barulho de mastigação adiante, então pensou em Negrinho e no cavalo cor-de-terra por ali, sossegados. O vento da noite estava frio e penetrava através de suas roupas molhadas. Mesmo assim sentira um calafrio correr por sua espinha quando o percebeu se aproximando por trás.
 Apesar de uma fraca e tremeluzente luz de lampião tê-lo denunciado, Jéssica sabia que sentiria sua presença até mesmo no escuro. Ficou esperando, imóvel, até que ele lentamente a contornasse e se sentasse de frente para ela. Então levantou os olhos e encarou aquele que a salvara.
 Perante a pouca luz, ela não podia enxergar muita coisa, mas viu seus lábios se moverem quando falou, a voz grave.
 – Bem, estava esperando você acordar. – Jéssica achou a declaração óbvia demais e continuou calada. Mas ele não pronunciou nada além disso, e demorou algum tempo para que a garota percebesse que ela deveria agradecê-lo.
 – Obrigado por me tirar de Negrinho naquele momento. Eu realmente estava com problemas. – disse, tentando olhá-lo nos olhos.
 – Não tem de quê. Eu teria feito por qualquer um – O garoto olhara para o lado, mexendo as duas mãos constantemente. Ao ouvir isso, Jéssica estranhamente sentiu um nó em sua garganta, mas deixou de lado quando o rapaz voltou a fitá-la – Meu nome é José Neto, mas pode me chamar de Neto.
 – Meu nome é Ana Jéssica, mas pode me chamar de Jéssica – riu de si mesma ao se ouvir falando. Quase nunca dizia seu primeiro nome para alguém.
 – O que foi? O que é engraçado? – Neto ficara curioso ouvindo-a rir daquele jeito.
 – Não é nada. É que eu não gosto do Ana, mas deixa pra lá.
 À meia luz, Neto fez cara de confuso e Jéssica parou de rir. Os dois se encararam por alguns instantes, mudos. Jéssica sentiu os pêlos de seus braços eriçarem com o frio. O silêncio que caíra entre os dois era ensurdecedor, e ela se pegou prendendo a respiração. Ela não podia pensar em um motivo racional, mas sentia que naquele momento seria capaz de fazer qualquer coisa. Sentia-se também mais livre que as correntes marítimas que iam e vinham, de lá para cá pelo globo. Mas sabia que não conseguiria se livrar das grossas cordas imaginárias que a prendiam no olhar dele. Jéssica não se preocupou em permanecer daquele jeito para sempre, mas, como a falta de energia que de repente provoca o breu total em uma cidade inteira, Neto se desligou da conexão, empertigando-se, e olhou em direção aos cavalos.
 – Em que você estava pensando para cavalgar com aquele tempo? – Neto perguntou, soando áspero demais para Jéssica.
 Ela estava incrédula com o tom que ele usara e arrependida por ter se sentido tão vulnerável por sua presença. Arrependeu-se também por ter parado ali, no meio do nada, com aquele estranho completo e por ter saído da fazenda de seu avô cavalgando Negrinho. Pensando em tudo isso e sentindo muita raiva, Jéssica se levantou e deu as costas para ele, caminhando alguns passos em frente. Sentia-se exausta e um nó apertado formou-se em sua garganta. Respirou fundo várias vezes, controlando-se para não chorar.
 Neto soltou um longo e alto suspiro e se levantou. Lentamente, aproximou-se de Jéssica, parando a poucos centímetros. Ela não queria olhar para ele novamente, e ficou grata por ele ter deixado o lampião para trás. Mas Neto simplesmente permaneceu ali, sem se mover e respirando ruidosamente. Jéssica contou várias batidas de coração até que ele falasse novamente.
 – Olha, Jéssica, me desculpe. Você não tem que responder nada para mim. – disse com a voz controlada, quase soando carinhoso – O importante é que você está bem. Agora, me diga onde você mora para eu poder levá-la – ele pigarreou uma ou duas vezes antes de continuar – acredito que o seu cavalo ainda esteja assustado.
 Jéssica se virou, toda a raiva desaparecida. Soltou um suspiro de alívio e agradecimento por não ouvi-lo bravo novamente. Pensou em Negrinho pela primeira vez e se preocupou com seus avós, na fazenda, sem saberem onde ela estava.
 – Ai, meu Deus! Quanto tempo eu fiquei apagada? O vovô e a vovó devem estar desesperados por minha causa. E o Negrinho? Ele está bem? Se eu não tivesse saído de casa, nada disso teria acontecido... – Jéssica estava à beira da histeria, andando de um lado para o outro.
 – Ei, psiu! Calma, Jéssica – Neto a puxara pelo braço, abraçando-a – Vai ficar tudo bem, não se preocupe. Você apagou apenas por duas horas. Eu levo você e explico o que houve para seus avós.
 Jéssica se sentiu enrubescida, mas aquele sentimento profundo de antes voltara e, por alguns segundos, seus pensamentos anuviaram. Então ela soltou-se um pouco do abraço apertado para continuar.
 – Bem, eu não sei onde estou, mas acho que você deve saber como se chega até a fazenda do Seu Sebastião, meu avô. Estou passando minhas férias lá.
 – É, eu sei mesmo. Moro aqui há menos de um ano e já conheço o Seu Sebastião. A fazenda dos meus pais fica alguns quilômetros pra frente.
 Neto pôs dois dedos na boca e assoviou alto. O cavalo cor-de-terra, agora tão escuro quanto Negrinho, aproximou-se, correndo. Para a surpresa de Jéssica, seu cavalo vinha logo atrás. Neto apanhou o lampião e subiu em seu cavalo. Com meio sorriso no rosto, aproximou-se da garota, oferecendo a mão para ajudá-la a subir.

3 comentários:

  1. hmmmmmmmmmmm...........
    sinto cheiro de paixonite.....

    ResponderExcluir
  2. oi Chris! Você foi convocada a aceitar um desafio! Veja aqui: http://thundersempire.blogspot.com/2011/02/desafio-leitura-nacional.html

    ResponderExcluir