As árvores e os animais passavam como um borrão através da janela do trem. Fazia alguns poucos minutos que o apito havia soado alto, avisando a todos os passageiros que a próxima estação estava perto. Todos estavam num clima de muita ansiedade, pois a viagem desde a estação anterior fora longa e cansativa. Todos, menos um. Havia uma garota sentada com a mão sob o queixo. Seus longos cabelos ondulados e escuros caíam em cascata sobre seus ombros e costas. Ela carregava um olhar distante e mais uma expressão indecifrável no rosto. Talvez nem escutara o grave e alto apito da locomotiva. Estava sentada daquele jeito fazia quase uma hora.
Seu nome era Ana Jéssica, e ela odiava essa composição. Sua mãe escolhera esse nome em homenagem a uma grande flautista da década de 70, mas ela achava Jéssica o suficiente. Ela tinha estado animada durante todo o ano para aquela viagem, pois seu namorado, Fred, viajaria também. Ele finalmente conheceria toda a família de Jéssica e os lugares que ela tanto amava. Esses eram lugares que ela conhecia desde pequena, quando podia sair de férias da cidade grande e ir para sua pequena cidade natal. Mas dessa vez, ela sabia, tudo seria diferente.
Jéssica sentiu o motor do trem desacelerando sob seus pés até os freios começarem a ser acionados. As pessoas a sua volta, simples e com vestimentas interioranas, estavam se levantando. Algumas pegavam suas malas e sacolas e outras juntavam as crianças. Quando o trem parou, ela sentiu que aos poucos estava voltando à realidade. Naquele momento sentia um leve formigamento nos membros por ter estado em uma mesma posição por tanto tempo. Os cheiros do campo e de plantações invadiam sua mente de forma estonteante. Em algum lugar ao longe, animais pastavam e se preparavam para dormir. O pôr-do-sol estava lindo de morrer.
Ela nem precisava olhar duas vezes: Jéssica sabia que ao descer do trem, encontraria seus avós maternos, sorrindo de satisfação, esperando por ela.
– Meu amor, olha só como você está crescida! – disse, como sempre dizia, sua avó Linda. Ela era uma senhora de 73 anos com cabelos brancos e curtos – E como estão seu pai e sua mãe? Estou com tanta saudade deles...
– Eles estão bem, vovó. E lamentam muito por não poderem vir dessa vez. – Jéssica disse se lembrando de como sua mãe, pianista, e seu pai, promotor, estavam ocupados. Eles adoravam Miragem tanto quanto adoravam trabalhar. Eles se conheceram e casaram ali mesmo, na Primeira Igreja Batista de Miragem.
– É realmente uma pena, filha. Mas tenho certeza que eles ficarão bem sem você. – disse seu avô Sebastião, de 80 anos, com um sorriso cansado, mas travesso também. Ele e dona Linda formavam o casal mais antigo e simpático da cidadezinha, e por isso todos os conheciam por ali.
– Eu sei que eles gostariam muito de estar aqui, já falei com eles mais cedo. Estavam avisando que você chegaria hoje, e por isso preparei uma galinhada especial para você, meu amor.
– Hum! Que ótimo, vovó, obrigado mesmo. – Jéssica disse, já se animando um pouquinho.
– Bem, então podemos ir? A fazenda é longe e quero chegar antes de escurecer. – disse Seu Sebastião conduzindo-as até a velha caminhonete marrom.
li gostei ridi, continue publicando. bjus
ResponderExcluirolááá
ResponderExcluireu de novo
não resisti, eu tive que ler seu conto (ou o começo dele)
como não tenho idéia do que se trata, estou curiosa, mesmo... Não deixe de avisar sobre atualizações! Gostei do seu jeito de escrever =D
Obrigadoo *-* leia mesmo :*
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